Sean Penn diz que não se sentia feliz em fazer filmes há 15 anos.
Na época, o ator nao entendia o porquê, mas chegou a um ponto em que ficou tão desiludido que havia aceitado a realidade de que seu amor por atuar nunca mais voltaria.
“Eu me senti miserável fazendo filmes”, lembrou o bicampeão do Oscar durante uma entrevista recente. “No começo, você está adiando para: ‘Bom, este roteiro é um problema, e este diretor é um problema. Mas então eu me peguei algumas vezes trabalhando em grandes coisas com ótimas pessoas e tão miseráveis.”
Isso até sua vizinha, Dakota Johnson, bater em sua porta com um roteiro e um convite para co-estrelar. “Sem brincadeira. Senti como se estivesse recebendo meu primeiro filme”, lembrou Penn sobre sua primeira resposta ao ler Daddio, que chega aos cinemas norte-americanos na sexta feira, 28 de junho.
Mas o filme que reencantou Penn com a arte de fazer filmes não é de forma alguma um típico filme de Hollywood. Em vez disso, Daddio é um retrato austero de uma conexão humana efêmera e serendípita que parece rara hoje em dia, se não quase extinta.
Parte do que Penn apreciou no roteiro foi a franqueza não filtrada de seus personagens, algo que ele acha que está faltando em muita arte contemporânea e nas conversas sociais mais amplas.
“Acho que estamos tirando gerações inteiras de diversidade de comportamento e diversidade de personalidade”, disse ele, admitindo que entende as preocupações com a sensibilidade, mas apenas até um ponto. “Mudar o vocabulário ou alterá-lo em certas circunstâncias se torna o trabalho em tempo integral e o pensamento reflexivo é deixado para trás.”
Daddio segue Girlie (Johnson), uma mulher que está retornando a Nova York depois de uma viagem para fora do estado. O filme começa com ela entrando em um táxi no aeroporto JFK e termina com ela sendo deixada em casa. Os 90 minutos entre eles estão cheios de conversas ostensivamente mundanas, mas reveladoras, entre Girlie e seu taxista, Clark (Penn).
Daddio é a estreia da roteirista-diretora Christy Hall, que, talvez sem surpresa, dado que o filme é impulsionado pelo diálogo, tem um histórico no teatro. Hall começou a trabalhar no roteiro em 2014, inspirada em parte por sua nostalgia pelo reality show Taxicab Confessions.
Penn, como ele faz em muitos de seus papéis, traz uma energia masculina que dá vida a um taxista impetuoso e de boca suja, mas que, em última análise, prova ter ternura. Da mesma forma, a Girlie de Johnson é uma engenheira de software experiente e bem-sucedida que parece ter tudo junto, mas cujo relacionamento com seu pai – ou falta dele – acaba levando-a a buscar esse amor em outro lugar.
“Este filme é sobre a condição humana, que há dois lados para todos nós. Estamos sempre lutando com nossos anjos maiores e nossos demônios mais sombrios. E estou interessada em personagens que estão sempre lutando com ambos, porque essa é realmente a verdade,” Hall disse.
Daddio, sem dúvida, testará a capacidade de atenção de alguns espectadores, mas outros se verão atraídos pela conversa franca e convincente entre esses estranhos sobre sexo, questões paternas e ser a “outra mulher”.
Penn e Johnson têm mais em comum do que seu bairro. Ambos falam sobre suas frustrações com Hollywood e disseram que este projeto foi, coincidentemente, uma espécie de epifania para cada um deles.
“Eu só quero estar apaixonada e inspirada pelo que estou trabalhando”, disse Johnson.
Só se passaram alguns meses desde que ela saiu de sua turnê de imprensa para Madame Teia, que foi um fracasso crítico e comercial. Pouco depois da estreia do filme, Johnson afirmou críticas ao filme, dizendo que não espera fazer outro como ele.
“Essa noção de executivos, não necessariamente pessoas criativas, decidir o que vai funcionar em um sentido artístico realmente não faz sentido para mim”, disse ela. “Acho que muitos dos estúdios, principalmente plataformas de streaming, são administrados por pessoas que nem gostam de filmes ou assistem.”
Johnson disse que “atacou” o roteiro de Daddio quando o leu pela primeira vez porque gostou muito, e passou anos através da TeaTime, sua empresa de produção, trabalhando com Hall para financiar o filme. Depois de anos no limbo e executivos de estúdio perguntando por que as pessoas encontrariam um filme tão desprovido de ação e drama divertido, ele acabou sendo pego pela Sony Pictures Classics.
Johnson espera que saborear a alegria que sente ao sair deste filme a fará lembrar da próxima vez que estiver lutando por um projeto.
“Acho que os humanos estão desejando a conexão humana”, disse Johnson. “Talvez seja por causa das mídias sociais ou de como temos sido tratados em termos de entretenimento nos últimos 5, 10 anos. Eu acho que os algoritmos nos têm realmente (explanado) dessa maneira. Isso não nos dá o conteúdo que eu acho que subconscientemente desejamos.”
Fonte | Tradução: Equipe DJBR