Por mais de uma década, Dakota Johnson conquistou um espaço distinto em grandes projetos de estúdio (a trilogia Fifty Shades, 21 Jump Street, How to be Single) e um material mais artístico (A Bigger Splash, Suspiria).
Com a louvável estreia de Maggie Gyllenhaal na direção, The Lost Daughter (que está na Netflix), a atriz de 32 anos encontrou um meio termo ideal, estrelando no papel de uma jovem mãe em conflito ao lado da vencedora do Oscar Olivia Colman, a estrela de Chernobyl Jessie Buckley e Paul Mescal, ator de Normal People, entre outros, em um ensolarado psicodrama, que já é um dos favoritos ao MVP (Most Valuable Players Movies). Recentemente, Johnson se encontrou com a EW para um bate papo cheio de spoilers sobre encontrar a irmandade e si mesma, na jornada de The Lost Daughter para as telas.
ENTERTAINMENT WEEKLY: O que você se lembra de seu primeiro encontro com Maggie? Ela disse que tudo aconteceu durante um almoço muito intenso.
DAKOTA JOHNSON: Em minhas experiências como mulher, às vezes você conhece outras mulheres e você as reconhece em algo e vice e versa, e aí você tem essa comunicação não verbal, essa concordância, ou esse tipo de… compreensão. Eu acho. E foi assim. E eu também acho que tinha chegado em um ponto da minha profissão em que eu estava cansada de reuniões falsas, de fachadas e superficiais. E foi exatamente o oposto com ela. Foi muito real e muito humano e o que eu ainda acreditava existir nesta indústria.
O filme foi filmado na Grécia, durante a pandemia e Maggie basicamente encontrou um lugar seguro para que vocês pudessem gravar. Isso deve ter unido o elenco de uma maneira diferente, a situação meio que uma ilha de acampamento de verão.
Sim, eu acho que o tempo todo que se está filmando longe de casa demanda um certo teor de intensidade e camaradagem no seu trabalho e com as pessoas com quem você trabalha. Mesmo que você esteja em Boston ou em Shreveport L.A., ainda assim parece um acampamento de verão. Na Grécia, foi apenas uma versão maior disso. Nós estávamos muito em uma bolha. Foi uma quarentena muito difícil depois que começamos a filmar, e por sorte, nós nos gostávamos bastante, então nós passamos muito tempo juntos. Era apenas o elenco o tempo todo, foi muito divertido e aconchegante… E não havia casos na ilha, então as pessoas estavam realmente vivendo suas vidas lá.
Quando nós nos encontramos há alguns meses, você chamou Maggie de “buscadora da verdade”, e suas parceiras Dagmara Dominczyk e Jessie Buckley disseram que ela era uma “sussurradora de dicas”. Você se lembra de alguma dica particular para Nina que você recebeu?
Falando em Dagmara, tinha uma cena em que Nina foi a [Colman] Leda para agradecer por ela ter achado sua filha, e então Callie [Dominczyc] chega por trás dela e passa protetor solar. E Maggie me deu uma dica para fazer parecer que Nina achasse Callie hilária – tipo, genuína e ridiculamente engraçada. E isso foi algo que eu amei muito. Tipo, Nina a odeia muito, mas também a acha tão divertida pois ela precisa achar pois está presa, sabe? Ela está aprisionada nessa vida, então ela pode ser muito ferrada pela Callie, mas também a acha ridícula.
O personagem de Paul Mescal adverte o de Olivia a ficar longe de você e de sua família, dizendo a ela que “eles são pessoas ruins.” Você acha que ele quis dizer no sentido criminoso ou apenas vagamente não confiáveis?
[Risos.] Eu diria no sentido de criminosos. Eu acredito que eles provavelmente tenham alguns negócios obscuros e algo do tipo, eu acho bacana deixar isso aberto para a imaginação das pessoas.
Como elenco, vocês obviamente passaram muito tempo com roupas de banho, o que provavelmente não é o sonho de nenhuma atriz. Mas não parece ter sido algo desconfortável ou impotente nesse filme por alguma razão.
É uma conversa interessante para se ter, pois definitivamente não é um sonho. Tem a parte disso de tipo “Ai meu Deus, eu vou para uma praia na Grécia e virar uma aberração? Legal.” Mas então, na realidade, há câmeras e pessoas, e isso não é relaxante. A mão da Maggie como diretora era segura, muito nutritiva e não era sobre nossos corpos. Ela falou sobre como, no início do filme, o corpo de Nina foi quase objetificado com os ângulos e distância da câmera – como se ela fosse a personagem de Antonioni, Monica Vitti, mas, então, você mergulha na mente dela. O ponto é, não parecia lascivo, o olho de Maggie. Parecia como se ela estivesse observando e estudando. Eu acho que se fosse o olho de qualquer outra pessoa, poderia parecer perigoso.
Vocês levaram este filme a tantos festivais, e parece um pouco de teste de Rorschach, com quem os espectadores se identificam. As pessoas viriam até você e teriam ideias diferentes de vilões e heróis nesta história ou para quem eles estavam torcendo?
Sim, eu adoro quando os homens, depois de terem visto o filme, aparecem e realmente reconhecem as mulheres nele. Eles são como, “Oh, isso é o que minha mãe era!” ou “Essa é minha tia” ou “Reconheço partes de minha esposa”. Isso é muito legal para mim.
E então eu também experimentei mulheres jovens que realmente não gostam de alguns personagens. E acho muito interessante porque a jornada de ser mulher é mesmo uma jornada, entende o que quero dizer? Em alguns estágios você sabe muito, e de repente você sabe tão pouco, e então você aprende mais. Mas o outro lado disso é que as mulheres se sentem tão vistas e se sentindo menos loucas e menos culpadas, e sentindo que não estão sozinhas em ter sentimentos complicados como mulher ou mãe.
Eu pensei em “Um Mergulho no Passado“ mais de uma vez enquanto estava assistindo, apenas em termos da complexidade do roteiro e da beleza do cenário. O que é definitivamente um elogio, mas não sei se foi semelhante para você enquanto estava fazendo, pode ter sido uma experiência completamente diferente.
Eu posso ver as semelhanças. Eu acho que há muito um cineasta europeu na mente de Maggie – o cinema italiano, o cinema francês realmente falou ao seu coração. A experiência não foi a mesma, no entanto. Esse filme para mim parecia que Maggie me ofereceu sua mão e disse: “Eu vejo você. Eu vejo algo em você que talvez você ainda não veja, mas venha comigo e venha com essas outras mulheres, que são as mais fodas atrizes talentosas e venham nessa jornada conosco.”
E foi um momento de evolução para mim como artista, mas também para mim como mulher. Fiz 31 anos quando estava lá [na Grécia], e foi um momento muito interessante para aprofundar o que realmente é ser uma mulher no mundo.
Em sua mente, você planejou um futuro para Nina? Você acha que ela fica com seu clã e seu homem?
Eu tenho um instinto sobre ela. Você sabe, às vezes há aqueles relacionamentos que prosperam em turbulências, eles precisam do atrito para seguir em frente? Acho que é mais ou menos isso que ela tem com o marido. E o que acontece com Leda no final do filme com o alfinete de chapéu, é Nina sendo mãe, é ela dizendo: “Ah, não, esse é o fim para você. Você não faz isso com a minha família”. É uma proteção, sabe? É primordial.
Eu não sei se algum ator pode dizer que realmente gosta de uma turnê de imprensa, mas o elenco de “A Filha Perdida” parece estar se divertindo melhor do que a maioria.
Não há nada melhor do que fazer imprensa com pessoas que você ama genuinamente, porque às vezes pode ser bastante exposto e difícil. É incrível porque podemos viajar por todo o mundo e estar juntos e conversar com tantas pessoas e experimentar tantas pessoas assistindo ao filme, mas também pode ser muito, sabe? Muita abertura do seu coração.
Então, o que é esse negócio de você dar a Olivia uma tatuagem caseira (stick and poke) depois de uma exibição em Nova York – você apenas anda por aí marcando vencedores do Oscar agora?
[Risos] Sim. Essa é a minha agitação lateral. Mas eu não quero te dizer o que é se ela não disse nada sobre isso! Esse é o corpo dela.