No último domingo (06) aconteceu a coletiva de imprensa de A Bigger Splash no VFF e, no nosso post com tudo o que aconteceu neste dia, postamos o vídeo. Confira, a seguir, a transcrição:
Por que você decidiu filmar em Pantelleria?
Luca Guadagnino: A ideia não teve relação com minhas origens. Foi um instinto que segui quando decidi fazer um filme sobre essas pessoas que se sentem abandonadas durante o verão. Pensei que o foco deveria ser quatro adultos, quatro diferentes gerações e perspectivas sobre o mundo, todos juntos até a deflagração. Precisava de um cenário que, com sua magnificência e poder, iria colocar essas pessoas em um confronto com a realidade. Pantelária, com seus contrastes e violências, parecia ser o lugar perfeito.Após alguns eventos trágicos, há um momento cômico com o ator Corrado Guzzanti, onde ele aparece estar tirando sarro da polícia italiana…
LG: Sua sutil grandeza como ator me faz recusar a ideia de que ele não deveria interpretar um policial italiano. Nós, italianos, acostumados com esse grande comediante, não conseguimos aproveitar a ironia e sutileza desse humano – muito humano – policial. Não é uma paródia. Um dos textos que nos guiaram foi “Falstaff of Verdi”. Com seu grande talento para o melodrama, por que trazer sua carreira ao fim, aos 80 anos, com uma ópera cômica? Mesmo que a melodia se torne ampla, com grande intensidade e profundidade. Na ópera, os cantores falam em grupo “tudo no mundo é uma piada!” Onde está a piada nesse filme? Começa com uma imagem de enorme intimidade pública, Marianne na frente de vários fãs, e acaba com ela decidindo se aproximar de alguém que ela nunca vai conhecer completamente – essa é a piada. E se não fizermos filmes para correr riscos, por que mais deveríamos fazê-los?
Matthias, seu personagem é mais reservado, especialmente considerando o personagem de Ralph Fiennes, como você realizou isso?
Matthias Schoenaerts: Parcialmente, você é sempre afetado pelas pessoas com quem você trabalha, inspirado por elas. É tudo sobre sinergia, os outros atores são uma influência em tudo que eu faço. Há uma ação e uma reação. Quando você trabalha, você tenta trazer sinceridade à situação. Você se deixa surpreender pelo que os seus colegas de elenco estão fazendo. É parte de um processo criativo.
LG: A qualidade envolvente de sua personagem, a generosidade de estar lidando com um personagem que tem que ir tão devagar, com uma mínima variação. Mas nós estamos rodeados de drama e Matthias foi tão incrível que nem se importava em se mostrar… mas fazendo isso, ele estava se mostrando! Geralmente em filmes há primeiro uma abordagem da personalidade do personagem e depois da parte física, mas nesse filme, nós começamos com a parte física para atingir a personalidade.LG: Sim, eu não poderia ter dito melhor.
O filme mostrou a presença ilegal de imigrantes em Pantelleria. Qual foi o significado?
LG: A ideia de quatro pessoas em uma casa lidando umas com as outras é potencialmente inapropriada, a menos que a força absurda de seus próprios desejos seja questionada pelo confronto com a realidade. Uma força que os coloca em posição de entender quem eles realmente são.
Tilda Swinton: Eu quero sugerir, já que estamos lidando com refugiados e refugiados de guerra, que coloquemos a palavra “imigrantes” de lado?Dakota, como foi interpretar um papel do tipo “Lolita”? Matthias, como você interpretou com o contraste dentro de você? Luca, a piscina foi a base de tudo, mas você usou uma ilha inteira, então o título (A Bigger Splash) é apropriado.
Dakota Johnson: Pra mim foi uma ótima e interessante experiência. Eu entrei no elenco do filme um pouco tarde e eu tive pouco tempo antes de começar as filmagens. Queria ter tido mais tempo, mas tudo deu certo no fim. Penelope, para mim, parece uma menina muito inteligente, que tem uma bizarra conexão com si mesma e com sua sexualidade. Ela está tentando descobrir o que isso significa e como usar e o que significa ser uma jovem mulher cercada por adultos. Ela não tem muita experiência de vida para estar no mesmo nível dessas pessoas. Eu fiquei fascinada pela escrita e pela história.
MS: Seis meses antes do filme começar a filmar, meu personagem veio à vida. Interpreto alguém que está tentando se animar novamente, tentando achar um novo senso de vida. Parcialmente, todos nós, em algum ponto, pensamos “Cansei. O que é essa coisa maluca chamada vida?” Esse filme, em muitos níveis, deixa essa pergunta no ar. Nós estamos seguindo em frente ou presos no passado? Talvez você prefira pular numa piscina que você conhece do que pular em uma nova e desconhecida.
LG: Eu gostei da ideia de uma ilha, um lugar onde você está e não pode fugir. Aparenta simplicidade, mas esconde grande complexidade.Tilda, foi sua ideia sua personagem não falar? E Ralph, fale sobre a cena em que você dança!
TS: Eu tenho muitas conversas longas com Luca sobre filmes. Nós temos uma variedade de fantasias. Algumas se tornam filmes. E, para ser sincera, esse filme não foi uma dessas fantasias. Eu sabia que ele estrava preparando esse filme, e eu não ia ser parte dele. Conforme as coisas foram acontecendo, chegou um momento em que os planos mudaram. Ele me procurou bem tarde um dia e me pediu para fazer parte do filme. Foi um momento da minha vida que eu não queria dizer nada, menos até do que eu quero agora. Eu meio que descobri que eu queria ir para Pantelleria e queria fazer parte dessa performance extraordinária. Como seria possível que eu fosse fazer parte desse cenário? Eu iria se não tivesse que falar nada. Esses personagens estão lutando com o fato de que não conseguem se comunicar uns com os outros, com ou sem palavras. Harry traz palavras, palavras e mais palavras… Eu disse isso ao Luca, não sabendo como ele iria reagir. Ele disse “vamos nessa”.
Ralph Fiennes: Eu recebi este roteiro fantástico de Dave e Luca, com esse personagem maravilhoso, Harry Hawkes. Estava escrito que em poucos minutos de filme ele iria se expressar por meio da dança. Nunca me pediram para fazer isso antes então disse “sim, obrigado.”Quantas vezes vocês filmaram a cena?
RF: Nós tivemos um dia para filmar. Eu meu tempo livre, eu tinha a música no meu iPod e ficava dançando. Graças ao fantástico cinegrafista, nós conseguimos de tarde. Foi difícil.Há muita coisa nesse filme, mas qual foi o foco?
LG: Eu conheço muitos chefes ótimos, é importante que mesmo que use muitos ingredientes, você foca na essência apenas de alguns, para não confundir quem irá comer. Eu queria explorar o papel do desejo entre pessoas adultas e como isso confronta a realidade. Eu queria trabalhar com isso em um tom de humor, que eu nunca tentei antes, e eu tenho que agradecer a David, que foi quem criou essas situações cômicas que também atingem um território sombrio. Todo filme tem um pouco de oportunidade, uma que temos que agradecer à generosidade dos que nos deixam tentar produzir cinema (financistas, atores, o grupo). Se você fizer cinema, tente surpreender a si mesmo e às pessoas com quem você trabalha. Tente achar algo que se encaixa.Dave, como foi escrever um filme com Luca?
David Kajganich: Eu nunca tive uma experiência como esta antes. Eu sempre trabalhei em sets de filmagens nos EUA, criando o que eles queriam. Luca me convidou para um lugar onde poderíamos conversar por um mês. Melhor do que trabalhar na estrutura rapidamente e criar personagens simplistas, nós fizemos o inverso, nós “desparafusamos” tudo, a máquina toda e construímos um mecanismo diferente disso. Nós nunca fechávamos a porta quando atores, designers e cinematográficos vinham. O projeto se tornou mais humano e mais bonito. Eu nunca poderia voltar ao outro jeito.
Fonte | Tradução: Nicole